Coluna do Jimi Joe Rei Magro Produções

De volta após um longo e calorento verão. Filmes a granel nesse verão modorrento das plagas porto-alegrenses (eu sempre digo que a vantagem de Porto Alegre é que você não precisa catar uma buceta no verão: você já está dentro de uma buceta gigante que é esta cidade, quente e úmida!). Na verdade, verdade vos digo, mesmo pagando o fisco da blasfêmia, só vou aos cinemas para fugir do calor acachapante (ia escrever senegalesco, but too much clichê ou too much pressure como naquele velho ska do Selecter). Em indo aos cinemas para contornar o calor acabo, primeiro, me expondo à possibilidade de uma gripe repentina pelo ar condicionado estupidamente frio da maioria das salas exibidoras, e, segundo e inevitavelmente, acabo vendo filmes, alguns bons, alguns nem tão bons e outros enlouquecedoramente aborrecidos. Falo na seqüência de alguns, randomicamente, sem ordem de preferência ou classificação em termo qualitativos.

Austrália, do Baz Luhrman, é de uma obviedade dolorosa o tempo todo. Você sabe exatamente qual vai ser a próxima fala, como vai se resolver a cena que está assistindo, quem vai morrer no fim e tudo mais. A atuação de Nicole Kidman é patética. A proposta de Luhrman é, até certo ponto, compreensível e meritória: resgatar valores ancestrais de sua Austrália nativa. Mas a coisa não compensa. Vence o óbvio e prevalece o tédio no espectador. Porque Luhrman não é John Ford nem Howard Hawks, carece de macheza para tanto. Austrália está longe do humor e savoir faire de Hatari! e mais distante ainda da grandiosidade e importância de E o Vento Levou, com o qual poderia se adivinhar certo parentesco na intencionalidade.

Em Foi Apenas Um Sonho, de Sam Mendes, que já tinha nos dado o bem bacana Beleza Americana e o inspirado Estrada para a Perdição, baseado numa graphic novel, a coisa já é bem diferente. Aqui estamos diante de cinema de verdade, história boa e bem contada, com atuações bem dirigidas e convincentes. Claro que quem foi ver esse filme com a referência de Titanic na cabeça, por conta do parzinho DiCaprio-Winslett, quebrou a cara. Aqui, o drama que Sam Mendes nos relata é coisa séria. Apesar do livro de Richard Yates, em que se baseia o filme, ter sido publicado no começo dos anos 60 contando uma história colocada na conservadora década de 50 do século 20, a atualidade da trama é impressionante. E a cereja no topo do bolo: Michael Shannon, como o maluco de carteirinha John Givings, acaba roubando a cena.

Mickey Rourke era um jovem ator que prometia muito em Rumble Fish, um Coppola de boa safra feito em 1983. Um quarto de século depois, muitos percalços no caminho, viradas de 180 graus em projetos de vida que incluíram um mergulho no mundo do boxe, Rourke está de volta em O Lutador, de Darren Aronofsky (Pi, Réquiem para Um Sonho). Na verdade, Rourke já havia dado a volta por cima em Sin City, de Frank Miller, de 2005. Mas lá a coisa era universo de quadrinhos, graphic novel, aquele papo. Em O Lutador, Rourke parece ter mergulhado de cabeça num personagem no mínimo comovente com sua história de “excluído” do chamado mundo real. Tanto que levou indicação ao Oscar perdendo, injustamente, creio, para Sean Penn com sua recriação de Harvey Milk. Mas O Lutador vale a maior parte de cada centavo do ingresso. Nem que seja só para dar risada quando The Ram, fã total de metal farofa, lasca: “Daí  aquela mina do Cobain tinha de aparecer e arruinar tudo! Vou te contar, eu odeio a porra dos anos 90!”

Rourke não levou o Oscar, mas Kate Winslett, depois de seis indicações, ganhou uma estatueta. Valeu, se não exatamente por sua interpretação em O Leitor, ao menos pelo conjunto da obra. Embora Kate esteja muito bem no filme de Stephen Daldry, O Leitor é um filme que tem seus problemas. Ele começa bem e vai bem até certo. E é quando você começa a pensar onde diabos o diretor está querendo chegar… O foco da história varia pra caramba e você fica tentando ver qual é o ponto, afinal. Mas tudo isso é pouco perto do desperdício de um baita ator como Ralph Fiennes metido num papel que se não existisse no filme, faria pouca diferença.

SHAKE A LEG, TAKE A CHANCE

Há coisas q vc dificilmente vai ver na sua vida. Um filme ruim de Martin Scorcese, por exemplo. Assim como existe uma incerta league of gentlemen no rock (Eno, Bowie, Belew, Fripp, Ferry, Dylan, Van Morrison…), há no cinema uma igualmente nada oficial irmandade dos fodões (John Ford, Orson Welles, Sam Peckinpah, Tarantino…). Marty é um desses fodões. Não prega prego sem estopa, não dá tiro na água. Taxi Driver, Cassino, Bons Companheiros, Alice Não Mora Mais Aqui, Kundun, Touro Indomável, The Last Waltz, New York New York, After Hours, A Idade da Inocência, Gangues de Nova York, No Direction Home, Cabo do Medo, A Cor do Dinheiro… É só escolher, Marty topa qualquer parada: filme de época, musical, crônicas do comportamento humano, remakes, comédias surrealistas, aventuras de jogadores de bilhar pouco confiáveis, histórias de boxeadores, retratos detalhados de mafiosos, visões perspicazes sobre budistas, documentários exemplares sobre rock n roll e sua origem, o blues… A câmara de Marty enquadra todos os gêneros e histórias possíveis ou aparentemente inviáveis com habilidade rara sem perder o tempo, o tema e o tato. Ele é elegante nas tomadas, iluminações, cenários, atuações, mesmo quando nos mostra cenas de extrema violência, as quais ele trata de emoldurar com as melhores canções q o rock produziu e q sua prodigiosa memória sabe resgatar com perfeição no momento apropriado para a tomada adequada. Acho q a primeira chapação com Marty foi vendo Taxi Driver, com um muito jovem Robert De Niro e uma ainda mais jovem e talentosa Jodie Foster, com escassos 14 anos. Depois veio The Last Waltz, magistral registro do concerto de despedida de The Band, uma celebração memorável do melhor do rock dos anos 60 e 70 do século 20 registrado num filme q pode ser revisto centenas de vezes sem perder o interesse e q revela um Marty repórter, excelente, aliás. Em seguida, a paixão concretizou-se com as histórias de Jake La Motta, com o resgate de Jerry Lewis em O Rei da Comédia, contracenando magnificamente com De Niro, e por aí em frente através dos anos e décadas. À moda antiga, Marty deixa perplexos seus parceiros de geração q preferem se manter up to date. Qdo filmou Gangues de Nova York, Marty montou cenários fabulosos na antológica Cinecittá, em Roma. E quando Coppola (ou teria sido Spielberg?) comentou com ele q tudo aquilo podia ser feito no computador, com muito menos gastos, Scorcese respondeu q embora cinema seja ficção, ele ainda prefere montar seu mundo de faz-de-conta usando cenários de verdades com atores autênticos… Por isso, a recomendação de hj é: corra até a locadora mais próxima e monte um pacote de filmes do sr. Scorcese. Afinal, ele é parte de uma raça em extinção: Marty é um dos últimos fodões de Hollywood.

Claro q é um pé no saco vc ter de ler um sujeito metido a cagar regra especialmente quando esse sujeito tentou por boa parte de sua vida ser fiel a algumas idéias e alguns ideais anarquistas movidos por noções às vezes sem noção geradas pela audição excessiva de punk rock. Mas enfim como diriam inúmeras pessoas q não será citadas nominalmente aqui, foda-se! Bom, qdo o rei Magro (eu amo esse codinome trocadilhesco desde a primeira vez q o vi – ou ouvi) me convidou pra escrever pra esse site, educadamente como é seu costume, me ofereceu algumas opções. Assim, segundo ele, eu poderia escrever sobre música, livros ou cinema. Não me ocorreu perguntar da possibilidade de escrever sobre teatro, balé ou dança flamenca (nesse último caso, eu declinaria do convite pra evitar encrenca com as trocentas escolas/linhas/gêneros/subgêneros q coexistem nada pacificamente pelas plagas porto-alegrenses…). Enfim, como já ando de saco cheio de escrever sobre música depois de todos esses anos, resolvi q gostaria de escrever sobre cinema. É o q pretendo fazer a partir deste texto inicial. Vamos então dar vazão às idéias e mãos à obra (!!!) para justificar o título supostamente metido a besta q está pendurado aí acima de todo esse palavrório que até aqui se comprovou de uma absoluta inutilidade. Tenho um hábito desde criança q já virou mania qual seja o de ir ao cinema. Esse hábito maniático se tornou uma obrigação profissional há muito tempo também por necessidades de escrever pra jornais e revistas sobre cinema e ultimamente uma imposição por ser eu um dos titulares do programa Moviola (sábados, 11 da manhã, Unisinos FM – 103.3 – www.unisinos.br/radio) ao lado do competente Rodrigo de Oliveira. Nessas minhas já incontáveis idas ao cinema desde a tenra infância qdo assistia filme de banguebangue no velho Cine Esperança na progressista cidade de Pedro Osório em companhia do meu saudoso papai tenho notado um desregramento por parte do público q tem exibido comportamentos cada vez mais estúpidos nas salas de cinema. Listo aqui alguns deles com a decidida recomendação de q eles não sejam copiados:

1 – pessoas q chutam as costas de sua poltrona durante sessões de cinema. Elas estão entre os mais deploráveis da autodenominada raça humana.

2 – pessoas q conversam sem parar durante as projeções cinematográficas. Esses energúmenos podiam ter o mínimo de bom senso e ficar conversando naquele café lá fora do cinema se é q é tão importante assim a conversa.

3 – pessoas q elegem a sala de cinema como uma espécie de alternativa opcional ao motel q é bem mais caro q o ingresso de cinema ainda q incluídos no custo a pipoca e o refrigerante.

4 – falando nisso, inevitável mas mesmo assim comentável, uma vez q é um hábito (péssimo, aliás) incentivado plenamente pelos exibidores: o consumo desbragado de pipocas e todo tipo de porcarias comestíveis preferencialmente aquelas mais fedorentas como pipoca banhadas em gordura e temperadas como fedidos queijos ralados.

5 – agora faça-se justiça aos exibidores também q por sua vez tem a explícita preocupação de advertir em seus materiais promocionais pré-filme q TODOS os espectadores devem desligar seus aparelhos de telefones celulares. Claro q isso não acontece e SEMPRE tem muuuuuuuuuuuita gente q deixa seus celulares ligados e com volume ALTO sendo q dessas muuuuuuuuuuuuuitas pessoas, vááááááárias não apenas atendem as eventuais chamadas q chegam durante a projeção como ainda se põem a falar confortavelmente como se estivessem instaladas na sala de estar de suas casas.

Agora q estão todos devidamente advertidos pelo tio Jimi espero q vcs leitores desse fabuloso site já não incorram nesses exemplos citados e – caso o façam – deixem de fazê-lo imediatamente. Dito isto tudo, digo ainda q na próxima oportunidade escreverei sobre o assunto em si q me trouxe até aqui, ou seja, cinema em si, em vez de ficar deambulando sobre assuntos periféricos ao filme propriamente dito.

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